O Reverso do Direito dos Médicos
O presente estudo trata dosdireitos dos médicos e, por consequência, dos reflexos que a atividade médicacomo um todo lança sobre o direito e de como estas duas ciências seinter-relacionam.
Se nos propormos a tratar daquestão do direito médico não há como não tratar do assunto sem abordar deforma detida sobre os direitos que são legal e constitucionalmente garantidosaos pacientes, bem como suas relações com o direito médico, que é o objeto donosso trabalho.
Como já dito em mais de uma oportunidade, não haveria nenhuma lógica em falar do direito ligado à medicina ou ao direito médico sem levar em consideração os direitos daqueles que são em seu conjunto a razão de ser da própria medicina, que é o paciente.
Nos anos idos os conflitos entre médicos e pacientes eram bastante reduzidos.
A opinião do médico e sua conduta clínica em relação ao paciente no tratamento de suas doenças raramente eram contestadas, contraditadas ou postas à prova, seja pelos próprios paciente, seja por seus familiares.
A medicina e o labor médicos ao longo de anos eram revestidos de uma aura de sacralidade. As opiniões e condutas clínicas para com o paciente nunca eram discutidas.
A opinião médica era o juízo de valor de uma autoridade, e esta não estava aberta a manifestação de leigos.
Tal caráter sagrado que envolvia a medicina era reforçado pelo necessário e inevitável contato do médico com os pacientes e com suas famílias.
O médico assistia com seus conhecimentos técnicos a algumas famílias, ou a uma comunidade circunscrita a uma determinada região geográfica, o que corroborava para que o médico em maior ou menor grau participasse ativamente da vida da comunidade onde estava inserido, ou mesmo da vida de seus pacientes de uma forma mais direta.
Este caráter pessoal e personalista que revestia o labor médico que de uma maneira mais ou menos profunda se amalgamava à vida cotidiana de seus pacientes era, por assim dizer, o "cimento" que fornecia a liga que tornava o saber e o labor médicosacralizado perante o olhar do paciente e perante toda a comunidade de uma forma mais geral.
Tal entrosamento entre médico e seus pacientes colaborava de forma eficiente para que os atritos entre pacientes e médicos fossem bastante reduzidos, afinal, era o médico que assistiam as parturientes em momentos de perigo e que estavam à cabeceira dos
doentes durante seus últimos minutos de vida.Com o advento do crescente desenvolvimento das ciências médicas e com a cada vez maior especialização destes, somado ao cada vez maior crescimento da tecnologia e uso de sofisticados equipamentos a serviço da medicina e de novas formas de atendimento e de comercialização da medicina, na maior parte dos casos no interior de entidades hospitalares onde o médico atende um grande número de pacientes com os quais não mantém qualquer relação pessoal anterior, tudo isso contribuiu para que houvesse um "esfriamento" no que diz respeito a relação que
existia entre o médico e seus pacientes.Já chega a ser, infelizmente, comum casos onde médicos e demais profissionais da saúde são agredidos por pacientes em hospitais e postos de saúde, em especial no serviço público de saúde.
Em relação a atividade do médico junto a pacientes mais esclarecidos e de maior poder aquisitivo a relação turbulenta permanece a mesma observada nas periferias das grandes cidades, só que com uma capital diferença. Em relação a esta classe social os conflitos são levados ao Poder Judiciário e/ou aos conselhos de medicina visando a apuração
de faltas de ordem ética.De qualquer sorte, quer seja em grupo, quer seja isoladamente, os pacientes de trinta anos para cá vem cada vez
em maior cobrado seus direitos e a levantar questões e aspectos controversos da assistência médico-hospitalar recebida.O objetivo que move os pacientes é o de contestação quanto a forma e os limites do atendimento e passam a cobrar de uma forma cada vez mais incisiva uma maior participação nas decisões tomadas a seu favor.
Entre os direitos cobrados pelos pacientes está o de receber informações detalhadas sobre seus problemas de
saúde; o direito de receber do médico documento médico onde este manifesta sua ciência de que o paciente por livre e espontânea vontade recusa o tratamento; detalhes da evolução de sua doença de forma a permitir uma melhor tomada de posição; descrição completa do que concerne ao tratamento proposto e aceito pelo paciente; sigilo ou omissão nos registros médicos de sua doença de forma a
preservar seus interesses mais imediatos; não aceitação da continuidade terapêutica nos casos considerados incuráveis e de penoso sofrimento.Além dos direitos pleiteados pelos pacientes nesta condição, também pleiteiam direitos a serem garantidos aos familiares, como o de receberem informações completas e em linguagem leiga, de forma a garantir por parte destes o correto entendimento das informações.
Muitos dos pleitos dos pacientes levam o médico a se ver constantemente em choque em relação a imperativos de ordem ética.
É certo que entre direitos que assistem aos médicos e aqueles que pertencem aos pacientes haverá certamente de ter um ponto de equilíbrio onde, com base no respeito e na confiança a ser resgatada todos os aspectos contraditórios e contrapostos hão de harmonizar-se.